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Eu e a Escrita

 “Aquele momento” em que o temos nas mãos

Não é todos os dias que se tem um filho. Não é todos os dias que se planta uma árvore. Não é todos os dias que se escreve um livro e, por isso mesmo, o momento em que o recebemos em casa, depois de tantos anos ou meses de trabalho, é algo de especial e único.

Quando recebemos o livro que escrevemos

A primeira vez que tive a experiência de receber em mãos o livro que escrevi foi em Janeiro de 2015, quando publiquei “O Trabalho Voluntário: uma reflexão jurídica e social”. Tinha 29 anos e achei que esta era uma boa idade para ter o meu primeiro livro publicado, sobretudo para alguém como eu que sempre adorou ler e escrever, e que esperou muitos anos para concretizar este sonho.

A segunda vez que passei por esta “maternidade” foi em 2017 quando recebi a edição de autor do meu primeiro livro de ficção, “Hipnose, o Regresso ao Passado”, e voltou a repetir-se, agora em Maio de 2021, com a publicação da versão em português, pela Editora Gato Bravo. Tem sido para mim um caminho duro e incerto, em que cada decisão me levou da expectativa à ansiedade e desta à satisfação pelo produto final.

Quando passamos do mundo abstrato para o mundo real

Por vezes, é muito difícil o caminho que trilhamos desde que projetamos a primeira ideia de um livro até à sua concretização material, quando a editora nos envia os exemplares.

Sabemos que durante anos ou longos meses aquela história apenas existiu na nossa mente. A sensação de que estamos a trabalhar no abstrato, sem referências físicas, durante um certo período de tempo, faz com que o livro seja um produto intelectual para ser usufruído a longo prazo. Para quem escreve, e para que seja possível manter a continuidade de trabalho, é preciso estabelecer metas temporais. É essa, pelo menos, a minha opinião. Por isso, a inspiração tem aqui um papel relativo, porque dela não pode depender totalmente o processo de escrita.

A ausência física do papel, no atual processo de escrita, contribui para o que o sentimento de “ter o livro nas mãos, pela primeira vez” adquira uma forte componente emocional!

Quando recebemos o livro em mãos pela primeira vez, devemos celebrar este momento com alegria, conscientes do que acabamos de alcançar. Não nos podemos esquecer que um só livro pode mudar a vida de alguém, o que é demonstrativo do poder da palavra.

Celebrar o sucesso, sem esquecer o fracasso

Sucesso sem fracasso não existe. Nunca se acerta à primeira, nunca se aprende a escrever à primeira uma obra perfeita e são precisos anos de leitura, de escrita e de pesquisa, para atingir um nível de qualidade que satisfaça o mais exigente dos escritores.

Acho que a insatisfação é necessária, e faz parte do percurso de todos aqueles que amam as palavras. Podemos amar um livro, mas ainda não estar satisfeitos com ele. Podemos estar gratos por o termos finalmente nas mãos, mas podemos e devemos estar sempre ansiosos que venha o próximo para aprimorarmos aquilo que não é simplesmente um trabalho – é uma missão.