AUTISMO: UMA OUTRA PANDEMIA

Há muitos anos, decidi que queria trabalhar na área social, participando ativamente com instituições de solidariedade social em Portugal.

Por essa mesma razão, contactei uma lista interminável de organizações nacionais, de carácter social, no sentido de poder contribuir para uma dessas causas. Tendo em conta que muitas destas instituições subsistem com grandes dificuldades não estranhei a ausência de resposta ao meu e-mail.

No meio deste oceano de silêncio, destacou-se, contudo, uma instituição.

Depois de receber o meu e-mail, a directora do Centro ABC Real, Albertina Marçal, fez-me uma contraproposta: em vez de eu perguntar o que poderia fazer por ela, queria saber o que o Centro poderia fazer por mim. Que oportunidades se poderiam desenhar no futuro, tendo em conta as dificuldades financeiras que enfrentavam? Precisavam de ajuda. Isso era certo. Devo confessar que a resposta – tão diferente de tantas outras – ecoou no meio desse silêncio de causas, que permanecem desconhecidas para a maioria de nós durante toda a vida.

Após conhecer a diretora, apercebi-me de que o Centro ABC Real era uma instituição revolucionária em Portugal, constituída na base de muito trabalho, e que subsistia graças à esperança que existia em torno desse projeto pioneiro, na área do autismo. Ao consultar o site centroabcreal.com vislumbramos o escopo desta instituição.

O Centro ABCReal Portugal é um centro de intervenção português para o tratamento do Autismo e outras Perturbações do Desenvolvimento Global, Atraso no Desenvolvimento Global, Perturbações da Atenção, Dificuldades de Aprendizagem, Hiperactividade, Psicose Infantil e outras Perturbações do Lobo Frontal. Além disso, somos pioneiros na aplicação do tratamento ABA, sendo supervisionados científica e tecnicamente por uma das mais antigas e prestigiadas organizações internacionais, a Applied Behavior Consultants, ABC Inc., especializada em Perturbações do Desenvolvimento Global.

A organização mãe é americana.

A resistência à causa

Fiquei francamente surpreendida com o alcance e a resistência desta causa quando me apercebi de que, para além da Covid-19, também neste domínio estamos perante uma verdadeira pandemia.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que existam 70 milhões de pessoas com autismo no mundo. No meio do desespero, os pais apostam em várias terapias, mas praticamente não há ajuda pública. O elevado número de pessoas e famílias afetadas por este transtorno exige que a sociedade repense o apoio neste campo. Para acrescentar a isto, as terapias são caras e exigem um esforço financeiro considerável: esforço esse que não tem sido assumido pelos Estados.

São 70 milhões de pessoas afetadas com autismo em todo o mundo!

Para além de todos os preconceitos que rodeiam o autismo, a falta de informação parece tornar inúteis os esforços destinados a chamar a atenção da sociedade para esta pandemia. Trata-se simultaneamente de uma perturbação mental, comportamental e neurológica: o seu tratamento é extremamente complexo e dispendioso.

Combater uma batalha pelo autismo exige muito trabalho e muita resiliência: além disso, implica dar às pessoas a informação e os instrumentos necessários para a compreender. Creio que é possível mudar a atual abordagem a este transtorno. Os resultados serão visíveis a longo prazo: em vez de indivíduos dependentes de Estados e famílias, teremos pessoas que poderão contribuir ativamente para as suas sociedades.

Mas uma coisa é certa: é possível fazer mais e melhor, e é por isso que, no meu blogue, decidi dedicar um artigo especificamente ao autismo.